Resolução da Conferência Extraordinária da Internacional de Mulheres Socialistas

Por Clara Zetkin, via Marxists.org, traduzido por Aline Recalcatti de Andrade

“Principalmente, a Guerra Mundial se opõe irreconciliavelmente aos interesses das classes trabalhadoras dos países beligerantes, neutros da Europa e do mundo inteiro. Sobre a enganosa imagem de preservar os interesses da pátria pelo cumprimento patriótico do dever, desperdiça a propriedade e o sangue do povo trabalhador e, para alcançar seus objetivos de imperialismo capitalista, exige a energia do povo trabalhador, sua disposição de sacrifício e capacidade de luta. Assim, coloca as melhores forças proletárias à serviço das classes exploradoras e dominantes.”


A Conferência Extraordinária de Mulheres Socialistas, reunida em Berna nos dias 26, 27 e 28 de março [de 1915], na qual assistem camaradas ativas da Alemanha, França, Inglaterra, Rússia, Polônia, Itália, Holanda e Suíça, declara que:

 A atual Guerra Mundial tem suas raízes no imperialismo capitalista. Foi provocada, eventualmente, pelas exigências dos exploradores e das classes governantes dos diferentes países que, em uma luta competitiva entre si, se esforçam para estender sua exploração e dominação para além das fronteiras de seus próprios Estados. Ao mesmo tempo, fortalecem e estabelecem sua exploração e dominação sobre seus compatriotas despossuídos de propriedade. Os interesses financeiros internacionais (as grandes indústrias de armamento) estão continuamente influenciando as classes proprietárias, como uma particular ameaça de perigo de guerra e da própria guerra. Esses interesses exploram as nações levando os Estados a uma competição armamentista.

 A história estabelecerá a enorme responsabilidade da eclosão da guerra que recai sobre os governos e na diplomacia de várias das grandes potências. Durante oito meses, a Guerra Mundial destruiu quantidades inumeráveis e inestimáveis de valores culturais e causou inúmeros sacrifícios de vidas humanas. Pisoteou e desonrou as mais altas conquistas da civilização, os mais sublimes ideais da humanidade. Desde sua eclosão, violou o direito internacional. Isso merece ser condenado, já que foi prejudicial para a pequena e neutra Bélgica. Por fim, ameaça fazer sangrar os povos que participam da guerra e causam seu completo esgotamento econômico. Ameaça com paralisar durante muito tempo as forças socialistas, portadoras do progresso histórico.

 Principalmente, a Guerra Mundial se opõe irreconciliavelmente aos interesses das classes trabalhadoras dos países beligerantes, neutros da Europa e do mundo inteiro. Sobre a enganosa imagem de preservar os interesses da pátria pelo cumprimento patriótico do dever, desperdiça a propriedade e o sangue do povo trabalhador e, para alcançar seus objetivos de imperialismo capitalista, exige a energia do povo trabalhador, sua disposição de sacrifício e capacidade de luta. Assim, coloca as melhores forças proletárias à serviço das classes exploradoras e dominantes.

 Sobre o mesmo lema, a Guerra Mundial une nacionalmente os trabalhadores dos países beligerantes com seus exploradores e amos, e os separa internacionalmente de seus irmãos, os proletários do outro lado da fronteira. No lugar da luta de classes dos trabalhadores pela melhoria de suas condições e por sua libertação definitiva, fala-se em “paz civil” nacional. No lugar da solidariedade internacional, põe-se a matança fratricida internacional. Separa os povos não somente por torrentes de sangue que fluem dos campos de batalha, mas também por suas sórdidas enxurradas de ódio, arrogância, calúnia e indignação. Se espalhou uma ação chauvinista que desonra a pátria, no lugar de contribuir para sua honradez por um reconhecimento sem preconceitos das conquistas culturais de outras nações. Através de tudo isso, a Guerra Mundial paralisa e corrompe nacionalmente a luta de classes dos trabalhadores e dificulta seu avanço internacional contra seu pior inimigo, a ordem capitalista.

 Impede a classe trabalhadora de levar a cabo sua grande missão histórica: a libertação do proletariado como a conquista dos proletários unidos de todos os países.

 A partir dessas considerações, a Conferência Extraordinária de Mulheres Socialistas declara guerra a essa guerra. Exige o cessar imediato dessa luta monstruosa entre os povos. Exige uma paz sem anexações nem conquistas, uma paz que reconheça o direito à autodeterminação e à independência dos povos e nacionalidades (incluídas as pequenas), e que não imponha condições humilhantes e intoleráveis a nenhum dos estados beligerantes. Essa paz seria uma premissa para a libertação do proletariado dos países beligerantes do jugo nacionalista. Ajudaria os partidos socialistas e as organizações sindicais a recuperar completamente sua liberdade de ação na luta de classes e como a vanguarda das massas trabalhadoras, com um propósito claro de unificar essas massas ao redor da bandeira do socialismo internacional.

 Essa Conferência Extraordinária de Mulheres Socialistas está convencida de que um rápido cessar da guerra só pode ser imposto por uma clara e inquebrável determinação das próprias massas populares dos países beligerantes. Esse cesse contará com o apoio ativo e unânime dos socialistas e dos proletários dos Estados neutros. É o dever mais sagrado das mulheres socialistas, especialmente das mulheres trabalhadoras, dirigir a luta pela paz com coragem, com a disposição de sacrifício e com o desejo de paz, que nasce da profunda dor causada pela guerra, e proclamar esse desejo como uma clara e consciente disposição de paz.

 A conferência das mulheres convida, então, às mulheres socialistas e proletárias de todos os países que, sem medo aos obstáculos e as persecuções anteriores, não percam nem tempo nem oportunidade de utilizar todos os meios disponíveis para proclamar, através de manifestações massivas de todo o tipo, sua solidariedade, conscientização internacional e seu desejo de paz. Essa guerra mostra às mulheres um papel histórico na luta pela paz, que quando se expanda e se leve a cabo terá grande importância para o sufrágio feminino e o êxito do socialismo.

 A conferência de mulheres, reunida nesses momentos tão conturbados, demonstrou que, para a conquista de um objetivo, as mulheres socialistas de todos os países, especialmente dos países beligerantes, estão unidas na velha fidelidade fraternal e no reconhecimento de uma grande solidariedade, no dever de uma disposição e ação unificadas. A conferência confia que as mulheres proletárias de todos os países se unam de forma unânime em apoio à ação internacional pela paz. Ao fazê-lo, atuaram no espírito dos congressos internacionais de Stuttgart, Copenhague e Basiléia, que, através de decisões unânimes, estabelecem como dever dos partidos socialistas o seguinte:

No caso de que, apesar de tudo, exploda a guerra, é sua obrigação intervir visando, em seguida, colocar seu fim, e, com toda sua força, aproveitar a crise econômica e política criada pela guerra para agitar as camadas mais profundas do povo e precipitar a queda da dominação capitalista”.

 A conferência das mulheres confia, portanto, que os partidos socialistas de todos os países se encarreguem de liderar os povos em sua luta pela paz, de forma rápida, decidida e com um objetivo claro. A ação pela paz das mulheres socialistas deve ser a precursora de um movimento geral das massas trabalhadoras destinado a pôr fim na matança fratricida. Deve significar um importante passo adiante à restauração da Internacional Operária.

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