Sinopses da Palestra ‘Socialismo Científico e Religião’

Por Georgi Plekhánov, via Marxists.org, traduzido por Danielle Barbosa

O tema pode parecer um tanto abstrato. Não chega a tocar nem em uma das questões urgentes em volta das quais há tantos argumentos acalorados, tanta perda e tanta tinta fluindo nas disputas entre os vários partidos revolucionários e, dentre esses, entre os vários tons da mesma tendência: nem a questão do proletariado e o campesinato, nem a atitude do ‘Bund’ [1]com o partido, nem a questão organizacional.


Acho válido, porém, às vezes refletir nas questões abstratas. Cada um de nós verá que é bom prestar atenção nessas questões; isso nos ajudará a nos tornarmos um homem completo (Heine). Heine (Escola Romântica) diz que Lessing era um homem completo (ein ganzer Mann). Como outro escritor alemão, ele se comparou como esses devotos judeus que, enquanto construíam o segundo templo de Jerusalém, afastaram seus inimigos com uma mão e continuaram erguendo o templo com a outra. Ao que cabe a nós, devemos agir da mesma forma; com uma mão lutando incessante e incansavelmente contra nossos numerosos inimigos, começando com aqueles que nos aprisionam, nos exilam e atiram em nós (Yakutsk) [2]e terminando com aqueles que mais ou menos intencionalmente, mais ou menos conscientemente, mais ou menos sistematicamente distorcem nossas ideias; e com a outra mão devemos tentar reunir pelo menos algumas pedras para a construção de nosso edifício teórico. Aquele que não acrescenta, deve ao menos manter a ordem. “Wissen ist Macht, Macht ist Wissen” (Conhecimento é poder, poder é conhecimento). Esse pensamento tem me encorajado a não temer a personalidade do tema. Além disso, a questão não é sem significado prático.

No ano de 1902, os editores do jornal Mouvement socialiste (Movimento socialista) realizaram uma investigação sobre a atitude dos partidos socialistas dos vários países para com o clericalismo [3]. Essa questão agora se torna uma prática e importante questão para o socialismo internacional.  E essa questão prática tem uma conexão óbvia e próxima com aquela questão teórica que você e eu examinaremos esta noite. Essa questão prática ainda não está na ordem do dia para nós na Rússia, pois ainda não podemos influenciar a legislação diretamente; mas temos outra questão prática: os dissidentes e sectários. Religião significa muito para eles.

Termos: Socialismo Científico, Religião

  1. Eu defino socialismo científico como um socialismo cujos adeptos estão convencidos do futuro triunfante de seus ideais, não porque lhes parece ótimo e lindo, mas porque são da opinião que a realização desse ideal (que eles sem dúvida consideram tanto ótimo como lindo e reagem a ele com grande entusiasmo, reconhecido até por seus inimigos) está sendo determinado e preparado pelo curso do desenvolvimento interno do contemporâneo, ou seja, a sociedade capitalista. Exemplos: a) comunismo; b) paz internacional (Stammler. Eclipse da lua).[4]

Ao explicar o curso do desenvolvimento social, os adeptos do socialismo científico adotam o ponto de vista da explicação materialista da história. A explicação materialista da história é sua base fundamental.  O que devemos ter em mente dos princípios da explicação materialista da história? Não é a consciência que determina o ser, mas a consciência do ser. O modo de pensar é determinado pelo modo de vida. E o modo de vida pela economia.

Todas as ideologias são, em última análise, frutos do desenvolvimento econômico. O mesmo acontece com a religião. Exemplos da história da arte: o bourgeois drama (drama burguês) na Grã-Bretanha e França. Logo veremos como entender isso e suas aplicações à religião. Marx: Der Mensch macht die Religion, nicht die Religion den Menschen (o homem faz a religião, não a religião faz o homem). [5]

  1. O que é religião? Derivação. Religio: vínculo. Alguns contestam essa derivação. Na minha opinião, é bem provável. Historicamente, religião pode ser considerada o elevar-se apenas quando um vínculo entre o homem social e certos poderes é estabelecido; com espíritos cuja existência ele reconhece e que, em sua opinião, podem influenciar seu destino. A religião distingue homem de animal. Sim, assim como a habilidade de cometer erros.

Animismo. No primeiro estágio de seu desenvolvimento, o homem imaginou que toda a natureza era povoada por espíritos. Ele personificou fenômenos individuais e forças da natureza. Por quê? Porque ele julgou esses fenômenos e forças por semelhanças consigo mesmo; o mundo lhe pareceu animado, ele imaginou esses fenômenos como resultado da atividade de seres vivos como ele, ou seja, dotados de consciência, vontade, necessidades, desejos e paixões. Esses seres vivos são espíritos. O que é um espírito? De onde veio essa concepção? Sonhos, desmaios, morte.

O mundo compreendido pelo homem primitivo é um reino de espíritos. Espiritualismo: filosofia primitiva, a concepção do selvagem do mundo. Avaliação dos espíritos: igual, inferior, superior a ele. Ele tem medo do que pode ser superior. Ele tenta ganhar o favor deles com subornos, ofertas de sacrifício.

Lucrécio: Primus in orbe deos fecit timor (o temor primitivo criou os deuses da Terra). Isso é indiscutível, embora nem todo espírito assustador é um deus; o diabo é aterrorizante para o camponês russo (o diabo era aterrorizante até mesmo para Lutero), mas o diabo não é um deus. Então o que é um deus? Um deus é o espírito com quem o selvagem estabeleceu relações de dependência moral (religio), eu diria relação de boa vontade. O selvagem reverencia o deus; o deus concede auxílio ao selvagem (no Antigo Testamento, a aliança de Abraão com Jeová). Quando essa aliança é estabelecida, temos um deus. No entanto, você pergunta, o que a economia tem a ver com isso? Bem, escutem. O fato é que todo estágio do desenvolvimento econômico tem sua própria concepção distinta do papel do deus. Exemplo: Júpiter. Sociedade comunista primitiva – garantia mútua, sociedade individualista – punição após a morte. A concepção de imortalidade como entendida pelos cristãos contemporâneos é o resultado de um desenvolvimento histórico prolongado. Outro exemplo: Júpiter (Zeus), luz do dia, céu limpo. Com o desenvolvimento da criação de gado e agricultura, seu deus é o da fertilidade e abundância (Líber), patrono da agricultura, em sua honra tem-se as festas da colheita de uvas; com o desenvolvimento das relações sexuais torna-se protetor de pactos (Deus Fidius). Depois se torna o guardião das fronteiras e propriedades (Jupiter Terminus), e assim por diante.

Na medida que as relações sociais se desenvolvem, essas relações e os conceitos abstratos que surgem a partir delas são deificadas: Fides, Concordia, Virtus e assim por diante.

Agora sabemos que há dois elementos na religião: 1) uma concepção do mundo e 2) moralidade social. Essa concepção do mundo é a concepção do ignorante. É fundada em ignorância. Mas os limites do desconhecido diminuem com a expansão de experiência e com o aumento do controle do homem sobre a natureza; quando o homem é capaz de influenciar a natureza sem oração, por influência técnica, ele deixa de orar. A observação de Auguste Compte sobre o deus da gravidade é a seguinte: confiem em Deus, mas mantenham seca sua pólvora. Eis dois elementos: Deus e o Eu. O bispo australiano recusando-se a orar por chuva: nenhuma confiança em Deus, apenas mantenha seca sua pólvora. Mas será que o bispo também acredita? É claro; 1) há muito na natureza que ele ainda não conhece; 2) as próprias relações sociais lhe são misteriosas e obscuras.

Quando a necessidade de religião desaparecerá? Quando o homem se sentir mestre da natureza e de suas próprias relações sociais.

Conclusões do Ramayana. Um santo e sábio anacoreta (uma daquelas pessoas que vivem no deserto da Índia em abundância) uma vez orou para o deus Indra. O caprichoso deus não escutou ao anacoreta; a oração, levada ao céu pelo coração puro do homem devoto, retornou sem alcançar o resultado desejado. O santo homem então se zangou com Indra e se rebelou contra o deus. Ele trouxe consigo toda a santidade que tinha “acumulado por seus inúmeros sacrifícios e longas sessões de autotorturas”, e se sentiu mais forte do que Indra. Assim, ele começou a comandar os céus. Ao seu comando, novas estrelas nasceram. Ele mesmo tornou-se um criador. O santo homem desejou até mesmo criar novos e melhores deuses. Indra se assustou, concedeu o desejo do santo homem e a paz foi restaurada. A história da humanidade é parcialmente semelhante a essa quando vista pelo aspecto religioso. Mas apenas em parte. Em primeiro lugar, não é santidade que os homens acumulam, mas agora conhecimento, poder sobre a natureza e, com tempo, sobre suas próprias relações sociais. E haverá um tempo em que esse conhecimento será o suficiente para não haver a necessidade de se ter Indra. A humanidade sobreviverá sem Deus. No entanto, não importa o quanto Deus se assuste, o homem não alcançará paz com ele; o pobre Indra estará irrevogavelmente fadado a morrer. Não há deuses melhores que outros, todos são ruins, há apenas alguns que não são tão ruins quanto outros (Schopenhauer), Engels:[6]

Queremos varrer para debaixo do tapete tudo que diz ser sobrenatural e sobre-humano… Por essa razão declaramos guerra à religião e ideias religiosas de uma vez por todas…[7]

Mas e a moralidade?

Não temos necessidade de… para reconhecer o desenvolvimento da espécie humana ao longo da história, seu progresso irresistível, sua vitória sempre certeira sobre a irracionalidade do indivíduo, seu difícil, mas bem-sucedido esforço contra a natureza até a conquista final da liberdade, a autoconsciência humana, o discernimento da unidade do homem e natureza e a criação independente (voluntária e por seu próprio esforço) de um novo mundo baseado em relações sociais puramente humanas e morais a fim de reconhecer tudo isso em sua grandeza; não temos necessidade de invocar a abstração de um “Deus” e atribuir a ele tudo que é belo, excelente, sublime e verdadeiramente humano. Não precisamos seguir esse caminho, não precisamos primeiro carimbar como “divino” o que é verdadeiramente humano para ter certeza de sua grandeza e esplendor. Pelo contrário, o “mais divino”, em outras palavras, é que quanto mais desumano algo é, menos seremos capazes de admirá-lo… Quando mais “divino”, mais desumanos são…[8]

Segunda Hora

A noção religiosa primitiva tem dois elementos: 1) um elemento filosófico (a concepção do mundo), 2) um elemento social-moral. Não há dúvida de que a experiência expulsa o primeiro elemento da religião. Como uma explicação dos fenômenos, a referência a Deus é insustentável. Algumas pessoas, porém, crendo na religião, ou desejando viver em paz com a mesma, atribuem a ela a outra esfera. Spencer, Kant, nosso neokantismo.

  1. O incognoscível. Não queremos saber aquilo que é inacessível aos nossos sentidos. Sempre haverá um desconhecido. Mas por que devemos deificá-lo? Será assunto de hipóteses, mas não de adoração religiosa. Spencer chama de pensamento religioso aquilo que estuda o que é inacessível aos nossos sentidos. No entanto, isso é parcialmente ciência, ou, se preferir, filosofia. A lua, etc.

O homem, diz Spencer, sempre sentirá estar na presença de infinita e eterna energia, a fonte de todo o ser. É claro, mas porque o homem deve dotar essa energia infinita, essa fonte de todos os seres, com personalidade? Com base em que ele isolará essa energia da natureza e a colocará acima da natureza? Apenas nessa condição, porém, a energia pode se tornar um objeto de adoração religiosa.

Kant. Religião – die Erkenntnis aller unserer Pflichten als göttlicher Gebote. Die Moral in Beziehung auf Gott als Gesetzgeber (a realização de todos os nossos deveres como mandamentos divinos. A moralidade em relação a Deus como legislador, K d Urth § 89). A moralidade, porém, não é idêntica à religião. Referência histórica: moralidade, unida à religião, também se separará da religião. Por último, moralidade é uma questão de bens sociais, de classes, de humanidade, mas não do mundo. É uma questão da humanidade e não do universo. Bulgakov [9]e Smierdiakóv [10]. Para Bulgakov, você sente a necessidade de Deus por seus fantasmas serem excessivamente fortes, como diz a bruxa Wittichen na peça de Hauptmann. [11] Isso é falta de desenvolvimento moral. “O marxismo não provará que eu devo servir a classe trabalhadora”. Não. E não é necessário. Sentimento não requer prova. Sonate, que me veux tu?’[12] Ni dieu, ni maître[13] (Sonata, o que quer de mim? Nem deus, nem mestre).

Psicologia da religião: aqui a análise de Feuerbach permanece verdadeira até hoje. A religião priva o homem e a natureza de suas melhores características e as atribui a Deus.

Engels:

A religião, em sua própria essência, drena o homem e a natureza de substância e transfere essa substância para o fantasma do Deus sobrenatural, que, por sua vez, graciosamente permite que o homem e a natureza recebam parte de sua superabundância[14].

Quando compreendemos o segredo dessa drenagem de substância, não podemos conscientemente nos entregarmos a ela.

Quelch:

A igreja é um dos pilares do capitalismo e a verdadeira função do clérigo é anestesiar os trabalhadores para torná-los dóceis escravos assalariados, pacientes e contentes com sua porção nesse mundo enquanto esperam a gloriosa recompensa no próximo. Enquanto a Igreja mantiver a mente dos trabalhos em suas mãos, haverá pouca esperança de libertar seus corpos do domínio capitalista.

A saída: Rückkehr, nicht zu Gott, sondern zu sich selbst (voltar, não para Deus, mas para si mesmo).[15]

Marx: a abolição da religião como a ilusória felicidade do povo é necessária para sua real felicidade. Veja as seguintes citações:[16]

Marx [I]:

A crítica à religião é…, em embrião, o criticismo ao vale das lágrimas, cuja auréola é a religião.

A crítica destruiu as flores imaginárias da corrente não para que o homem pudesse usar uma corrente sem adornos e sem vida, mas para que ele se livre da corrente e colha a flor viva.

Marx [II]:

A crítica à religião desilude o homem para fazê-lo pensar, agir e moldar sua realidade como um homem que foi desiludido e viu a razão, para que ele orbite ao redor de si mesmo e, portanto, ao redor de seu verdadeiro sol.

“Religião é um assunto privado.” Não pode haver paz com religião, assim como não pode haver paz com erro. Schopenhauer. Nossa atitude para com os dissidentes: religião é um assunto privado. Mas mantemos o direito de lutar contra a ideia religiosa e suplantá-la com a científica.

A social-democracia deve, usando uma expressão bem conhecida, roubar dos tiranos seus espectros e do paraíso seu fogo.

Notas Durante a Discussão do Relatório

KharazovFormulação da questão.

1) A perplexidade de G Kharazov. Minha definição. Se quisermos concordar com ele, devemos admitir que a questão da religião está encerrada. A existência de Deus não pode ser provada. Ele considera minhas ideias comuns a todos. Muito feliz!

A questão religiosa não se reduz à existência de uma divindade. O conceito de deus tem sua própria evolução. Muitas pessoas usam a palavra deus sem compartilhar a ideia supersticiosa de deus como uma personalidade.

Observação. A origem da religião. Eu supostamente comecei com a definição etimológica da palavra religião. Isso, novamente, é Cícero. Falso. Eu disse e provei que está correta. Indiquei o desenvolvimento das concepções religiosas. Depois indiquei Spencer e Kant para quem a religião é um sistema moral do mundo. Divindade não é Deus. E o que é? Uma pena você não ter dito. Observações históricas. Garantia mútua perante Deus. Minha ideia é original, mas não provada. A história de Alcibíades. Eu supostamente disse que Alcibíades, etc. De onde tirei isso, etc.

História do Egito. Aí temos responsabilidade pessoal. Sim, mas e daí? Provavelmente pode ser explicado por organização teocrática.

Abraão e Sara: chefe da tribo.

Kant. Ele fica surpreso ao comparar Kant e Berdyaev. Não Berdyaev, mas Bulgakov. Kant: a ideia de Deus é uma ideia reguladora. Com Kant, Deus não é uma personalidade e sim uma ideia. Supõe-se que eu tenha distorcido o argumento de Kant. Não, indiquei seus dois Critiques (ensaios críticos), [17] quase citando suas próprias palavras. Supõe-se que tenha dito que os mineiros de Vestfália são kantianos. Eu nunca disse nada do tipo. Como isso acontece?

Volsky: [18]a social-democracia não conseguirá combater aspirações religiosas ocultas, mas a examinação da religião em forma oculta está além do escopo do socialismo científico. Pessoas religiosas penetram as forças da democracia social. Falei pouco sobre a religião ser fundada nas aspirações conservadoras das classes dominantes. Bem, repetirei: a social-democracia não pode proteger o proletariado das intrigas das classes dominantes. Pois o próprio socialismo científico não está livre de concepções religiosas. Prova: Primeiro de maio. A assembleia dos trabalhos no primeiro de maio é um evento religioso. Por quê? Pensamos em um tempo em que não haverá nem rico, nem pobre. Não, não é assim. Aqui não há religião.

A propriedade burguesa não pode ser atacada hoje. Apenas nossos descendentes podem fazer isso. E você? Por que você não ataca? A função do socialismo é propagar o sistema futuro e não atacar o atual. Se seguirmos, etc., a princípio o tempo da revolução socialista parece próximo, mas depois terá que ser adiado cada vez mais. A “real aquisição” do socialismo científico é as massas convencidas do triunfo do socialismo. A classe trabalhadora já valoriza o progresso burguês. Mudanças em matéria de ataque à propriedade e à religião burguesa surgem com especial clareza na Rússia. Lá, a classe trabalhadora está realizando a revolução burguesa. Isso significa que está fortalecendo e não demolindo a casa de servidão. Vemos o mesmo acontecer na Polônia. Surge então a questão: onde há sequer um traço de base religiosa no socialismo científico? A base religiosa é encontrada no próprio socialismo científico.

Qual é a base dos sentimentos religiosos? O fato de no sistema contemporâneo de escravidão humana, a humanidade se unirá e lutará por um objetivo comum. O mesmo acontece na burguesia. É absolutamente fundamental unir a burguesia e o proletariado em um ataque à autocracia. Não, não estamos nos unindo. Aparentemente, o Sr. Volsky chama tudo que não o agrada de religião. Mas isso é abrangente demais.

Primeiro passo para criar ficção religiosa: aponte para economia. Acreditamos na sociedade um todo unido. Não, falamos da luta de classes.

Colaboração e escravidão. Qual a nossa atitude quanto a isso? Providência, criando a escravidão como um passo para o socialismo.

No lugar do socialismo científico? A social-democracia não fez nada além de remodelar o movimento revolucionário da classe trabalhadora em colaboração com outras classes. O antagonismo das massas trabalhadores ao socialismo científico se manifestará. Até ouso declarar isso uma profecia religiosa. Previsão religiosa baseada no quê, ninguém sabe.

Não é o bastante atacar apenas a classe de capitalistas e sim toda a sociedade. Romper com a intelligentsia. Expropriar toda sociedade burguesa. Direito familiar, segundo o qual alguns nascem com bens e outros sem.

Akimov: minha posição. Akimov e eu discordamos sobre a formulação da questão. Social-democracia para mim é algo unitário. Falei não sobre a democracia social, mas sobre Marxismo, sobre socialismo científico. Segundo Akimov; Marx e Engels não exploram por inteiro o socialismo científico. Vamos presumir que seja assim. Mostre-me exatamente o que. Opiniões de Vandervelde como um representante de socialismo científico. Vandervelde é marxista? Ele mesmo disse que sim mais de uma vez.

Aspecto típico de minhas visões. Não forneci uma solução para os problemas que enfrentamos. É exatamente o que Bulgakov disse. Também não dou uma solução. Mas por que você não culpou os problemas que aparentemente estão diante de nós?

Windelband, e não apenas o homem primitivo, posiciona-se sobre religião.

Que motivo nos compele a agir assim e não de outra forma? Esse…


Notas

Notas feitas pelos editores de Moscou dessa edição da obra. Estão indicadas como “Editor”.

1. Em 1904, na véspera da primeira revolução russa, uma incisiva luta acontecia dentro do POSDR sobre a atitude do proletariado em relação ao campesinato e contra o nacionalismo do Bund e outros. O Bund (União Judaica Trabalhista da Lituânia, Polônia e Rússia) foi organizado em 1897; em 1898 a união juntou-se ao POSDR “como uma organização autônoma, independente apenas no que diz respeito a questões especificamente relacionadas ao proletariado judaico”. Após o Segundo Congresso do POSDR (1903), que rejeitou a exigência de reconhecer o Bund como o único representante do proletariado judaico, o mesmo deixou o partido. Bundistas tinham continuamente apoiado os oportunistas dentro do POSDR (mencheviques, “economistas”, etc.) – Editor.

2. Aqui Plekhanov se refere ao “protesto de Yakutsk” em 18 de fevereiro de 1904 contra as duras condições de vida em exílio e a arbitrariedade das autoridades, quando cinquenta e sete exilados se barricaram na casa de Romanov, um habitante local. Durante o tiroteio, o exilado Matlakhov foi morto. Em 7 de março, os “romanovistas” se renderam – Editor.

3. Esse questionário foi divulgado pelo jornal socialista Le Mouvement socialiste (publicado a partir de 1899 e editado por Lagardelle) em conexão a amarga luta entre o governo republicano francês e a igreja católica que terminou com a separação da igreja e estado. Respostas ao questionário eram recebidas de socialistas de vários países e impressas nos números 107-110 do jornal em 1902 – Editor.

4. Refere-se à declaração de Rudolf Stammler em sua obra Wirtschaft und Recht nach der materialistischen Geschichtsauffassung (Economia e direito segundo a visão materialista da história) sobre a contradição em que supostamente caem os social-democratas; por um lado, ao considerarem a revolução proletária inevitável e, por outro, ao apelarem à ação para que ela ocorra. Para Stammler, isso parecia tão estranho quanto organizar um grupo para assistir eclipses lunares – Editor.

5. Karl Marx/Frederick Engels, Collected Works (obras escolhidas), Volume 3 (Moscou, 1975), p 175 – Editor.

6. Abaixo no texto há dois trechos do artigo de Engels “A condição da Inglaterra: passado e presente por Thomas Carlyle, Londres, 1843”, usado por Plekhanov em sua palestra – Editor.

7. Karl Marx/Frederick Engels, Collected Works (obras escolhidas), Volume 3 (Moscou, 1975), p 463 – Editor.

8. Karl Marx/Frederick Engels, Collected Works (obras escolhidas), Volume 3 (Moscou, 1975), p 464 – Editor.

9. O filósofo e economista russo Bulgakov considerava o socialismo não como uma fase necessária no desenvolvimento social, nem como resultado da luta de classes, mas apenas como ideal moral do livre arbítrio humano – Editor.

10Smierdiakóv – um personagem do romance de Dostoiévski, Os irmãos Karamázov, que comete assassinato sob a influência de ideias sugeridas a ele por Ivan Karamázov. Bulgakov escreve sobre Ivan Karamázov dizendo “Ivan fala indecisa e condicionalmente sobre moralidade, ele diz ‘se não há Deus, nem imortalidade da alma, então tudo é permitido’” – Editor.

11. Plekhanov reformula uma fala da peça de Hauptmann, Die Versunkene Glocke(o sino submerso) – Editor.

12. “Sonate, que me veux-tu?” (sonata, o que quer de mim?) – uma expressão usada pelo escritor e cientista francês Fontenelle. O significado da comparação de Plekhanov é aparentemente o seguinte: Fontenelle, que não possuía ouvido musical, exige que a sonata lhe prove seu valor; assim Bulgakov, que é hostil ao movimento da classe trabalhadora e ao socialismo, exige que os trabalhadores lhe provem algo que não pode ser provado – Editor.

13Ni dieu, ni maître!(nem deus, nem mestre!) – o slogan revolucionário que o revolucionário francês Blanqui usou como a manchete de seu jornal – Editor.

14. Karl Marx/Frederick Engels, Collected Works (obras escolhidas), Volume 3 (Moscou, 1975), p 461 – Editor.

15. Karl Marx/Frederick Engels, Collected Works (obras escolhidas), Volume 3 (Moscou, 1975), p 465 – Editor.

16. As duas citações usadas abaixo foram retiradas do artigo de Marx “Contribuição à crítica da filosofia do direito de Hegel, Introdução”. Karl Marx/Frederick Engels, Collected Works (obras escolhidas), Volume 3 (Moscou, 1975), p 176 – Editor.

17. Refere-se aos livros de Kant, Kritik der reinen Vernunft(Crítica da razão pura) e Kritik der praktischen Vernunft(Crítica da razão prática) – Editor.

18. Nas notas sobre a discussão com Volsky (Makhaisky), os pontos do mesmo se misturam às objeções de Plekhanov. A. Volsky, um ideólogo do makhayevismo, uma tendência anarquista fútil e burguesa que era hostil aos intelligentsias – Editor.

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